domingo, 19 de dezembro de 2010

Inovação nas obras literárias - GRAU 26




Chegou ao Brasil o livro que combina o suporte tradicional de papel com navegação pela internet. Mistério, suspense, ação, uma história cativante e vídeos que complementam o enredo. Essas características fazem parte do livro Grau 26 – A origem (Editora Record, R$ 39.90, 420 páginas), escrito por Anthony E. Zuilker em parceria com Duane Swierczynski.
Capa do livro
Lançado no Brasil em 2009, Grau 26 é considerado o primeiro livro digital interativo da história da literatura. Ganhou o nome de digilivro. Conta a história de um assassino que não se enquadra em nenhum dos 25 graus de perversidade definidos pela lei. Ele vai além: para classificá-lo é necessário um novo item, o grau 26.
Um dos autores, Zuilker, é roteirista de uma das séries de TV mais famosas da atualidade, CSI. No livro, ele desafia o leitor a se aprofundar no cotidiano do perito Steve Dark e sua equipe na perseguição ao mais amedrontador psicopata de todos os tempos, Sqweegel. Leia. Veja. Acesse. Tenha medo. Esse é o lema de Grau 26.
Para o publicitário Marcílio Guimarães, 24, de São Paulo, o tema horripilante foi a razão que lhe fez comprar Grau 26. “Comparado a outros grandes autores que costumo ler, como Stephen King, Dan Brown e Thomas Harris, o livro não é espetacular a ponto de levar o leitor a outra atmosfera, mas é fácil de ler, cheio de ação e com poucos detalhes chatos, além de ser uma história bem sinistra, com um assassino cheio de precauções. Os cuidados que o assassino toma me lembram os livros O Colecionador de ossos (adaptado para o cinema) e Dexter (adaptado para a TV)”, avalia.
Interatividade
No decorrer da leitura, ao final de alguns capítulos, códigos são oferecidos ao leitor. Por meio dessas senhas, ele é direcionado ao site oficial do livro, onde terá acesso a 20 ciberpontes. Cada uma delas contém vídeos e tem por objetivo complementar a história. A leitura pode ser realizada independentemente do conhecimento desse conteúdo digital. No entanto, a história se torna bem mais interessante quando as produções visuais são conferidas.
A universitária do Rio de Janeiro Suelen Mattos, 23, conta que a interatividade da obra foi o que despertou seu interesse em conhecer o digilivro. “É inovador”, entusiasma-se. “Tenho uma imagem real na mente quando leio o livro e fico super ansiosa para chegar na próxima cyberponte. Simplesmente não consigo largar. Leio em tudo que é lugar: em casa, na faculdade e até nos ensaios do coral.”
Os vídeos possuem produção com qualidade de cinema e são dirigidos por Zuilker. No elenco, aparecem, entre outros, Bill Duke (de Dragão Vermelho O troco) e Michael Ironside (de O exterminador do futuro: a salvação). Para ter acesso aos vídeos, é necessário realizar um cadastro no site. Assim, o leitor pode conhecer os conteúdos e debater com outros admiradores da obra. As produções trazem legenda em português e duração de dois a quatro minutos.
O professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos Tiago Lopes leu todo o livro e diz que a trama deixa a desejar. “Em matéria de enredo, a história é fraca”, lamenta. “Mas a idéia dos vídeos é interessante por causa da convergência de mídias que responde ao novo contexto digital. É uma nova possibilidade de narrativa.”
Tiago salienta que o mais importante da interatividade é a comunicação que a obra pode proporcionar: “O que destaco como relevante é que o leitor, ao se cadastrar no site, tem a possibilidade de trocar informações com outros leitores e pode ficar a par do que o autor escreve no blog e do que é divulgado nas outras redes sociais”.
Controvérsia
Ainda há divergência de opiniões quanto à forma diversificada de construir o processo narrativo de Grau 26. Na Internet, alguns leitores afirmam não ter gostado do livro pelo fato de os vídeos limitarem a imaginação referente aos personagens.
O professor do curso de Letras da Unisinos Cláudio Zanini discorda. Para ele, o método narrativo de Grau 26 parece rico em conteúdo: “É um caminho natural, além da facilidade de acesso à internet que há atualmente. Espero que haja mais livros desse tipo, assim o livro impresso será popularizado”. No entanto, Zanini afirma que os vídeos podem prejudicar leitores mais velhos que possam se interessar pelo livro, mas que não têm acesso à internet.
O que ninguém põe em dúvida é o quanto há de inovador na combinação de volume em papel e vídeos na web.  “Acredito que é uma grande estratégia de marketing, pois a história fica bem gravada na mente, e instiga o leitor/espectador a querer saber mais, a ler mais, além de ilustrar aquilo que acabamos de ler e facilitar na compreensão dos textos”, afirma o publicitário Guimarães.
A bibliotecária do Rio de Janeiro Adriana Ornellas, 25, que comprou o livro mas ainda não leu, conta que a temática foi o que lhe chamou atenção na obra. “Sempre me interessei por livros com serial killers e/ou psicopatas. Leio livros e vejo muitos filmes do tema”, declara. Para ela, a união de texto e vídeos numa mesma obra é um ponto positivo. “Pode-se ler e assistir os vídeos em momentos diferentes. É um enriquecimento para a história”, comenta.
Próximos capítulos
O livro, que será uma trilogia, terá sua segunda parte lançada ainda este ano no Brasil. A terceira e última parte deve chegar em 2011.
O professor Tiago Lopes prevê que os próximos títulos não vão cativar tanto o público quanto o primeiro. “Não acredito que as sequências farão tanto sucesso”, arrisca. “Se os vídeos fossem disponibilizados em outras mídias como o iPad, em que texto e vídeos ficassem concentrados num mesmo espaço, facilitaria mais a leitura”.
Lopes afirma que, para esse tipo de interação entre mídias, a história deve ser interessante. “Não sei se a ideia daria certo ou faria sucesso com outros temas, mas creio que tudo depende da história do livro”, complementa.
Cauteloso e metódico, o antagonista Sqweegel é um assassino que nunca deixa pistas. Não possui um modus operandi como outros assassinos. Veste uma roupa branca, colada ao corpo, com um zíper na boca e aberturas nos olhos. Tem imensa flexibilidade e elasticidade com o corpo.
Suas vítimas podem ser qualquer pessoa, com exceção de bebês – ao menos por enquanto. Qualquer um pode ser o método utilizado.
Jogo
Além do livro Grau 26, há outra novidade para os fãs do personagem Sqweegel: um jogo em que o internauta é convidado a desvendar os enigmas deixados pelo assassino. A exemplo do que ocorre na série CSI, escrita por Zuilker, é necessário observar com atenção a cena e encontrar a palavra chave que permitirá o acesso ao próximo enigma. Isso ocorre sucessivamente até que a “vítima” seja salva.
A universitária Suelen conferiu o jogo, mas não ficou satisfeita. “Joguei, mas não gostei muito. Começou super bem, chamou a atenção, mas o final deixou muito a desejar. A coisa ficou meio que no ar, e foi muito rápido. Sinceramente, esperava mais”, analisa. Para o publicitário Marcílio Guimarães o jogo não despertou interesse: “Eu vi, mas não joguei”.
Mesmo com todas as novidades que surgem a cada momento, as redes sociais, as tecnologias, o professor Cláudio Zanini não acredita que o livro impresso chegará ao seu fim. “Essa ideia é uma besteira”, afirma. “Por mais que o computador ofereça alternativas diferentes para leitura, nunca será igual ao livro tradicional.”
Assista um dos vídeos que complementa a história:


Por Ana Paula Figueiredo
Estagiária de Jornalismo
Fonte

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